sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A luta de um caboclo - Nona semana

Ao serem avisados com alguns minutos de antecedência sobre a presença da policia os homens que estavam no baile e que andavam armados correram todos para o mato incluindo entre eles meu avo e meu tio. Quando a policia chegou foi logo pulando dos cavalos e sem querer saber de nada foram apontando suas armas para minha avó exigindo que ela desse conta de meu avô sob pena de sofrer as conseqüências. Ao apontarem as armas para ela os filhos que ainda eram pequenos e em boa quantidade, correram todos para junto dela agarrando na barra de sua saia. Ela disse que não sabia do paradeiro do vovô, porem eles insistiram colocando os fuzis em seu peito e exigindo que ela desse conta de seu marido. Após algum tempo naquele lenga lenga e convencidos de que ela dizia a verdade, os policiais resolveram abandonar a missão. Era muito tarde da noite e a cidade mais próxima ficava muito longe. O comandante dos policiais resolveu que eles não iriam voltar naquela noite e, sem ter muito o que fazer o resultado acabou sendo o abandono das armas. Sem perda de tempo um soldado pegou a sanfona o outro o violão e cada qual mandou brasa como pode e o baile rolou a noite toda. Os homens que haviam corrido sem saber o motivo da presença da policia, deixaram seus revolveres, facas, peixeiras e punhais escondidos nas moitas e pouco a pouco foram voltando meio ressabiados para o baile que só acabou com o raiar do dia. A exceção neste caso foi meu avo e meu tio que avisados por alguns freqüentadores do baile, trataram de fugir e só retornar quando fossem avisados que estava tudo bem. Acredito que esta tenha sido a primeira vez que a policia realizou um evento social de diversão. Duro mesmo, foi no outro dia após a saída da policia os homens que deveriam ir cada qual para suas roças tiveram que passar o resto do dia procurando suas armas de moita em moita, pois na presa ninguém mais lembrava onde havia deixado. Neste dia o problema para meu avo foi resolvido com certa facilidade mas, como um dia é da caça e outro do caçador, essa perseguição tomou corpo e se tornou mais tarde o motivo de meu avô ter que vender por preço muito baixo tudo que havia construído e voltar a viver na região do buracão em Goiás afim de preservar sua vida e de seus filhos.
Voltando à minha viagem, neste momento tive minhas lembranças interrompidas por uma parada bastante rápida do ônibus. Olhei pelo corredor entre as poltronas tentando enxergar o motorista para ver se descobria o que estava acontecendo mas, não consegui ver nada porque eu estava sentado muito atrás. Me levantei e pude perceber que havia algum problema pois percebi que o motorista olhava pêlos retrovisores numa clara demonstração de que tentava estacionar o veiculo. O ônibus parou e entre os passageiros ficou um clima de curiosidade com todos olhando para todos como se estivessem perguntando o que houve sem encontrar as respostas. Resolvi então verificar o que estava acontecendo e me encaminhei para a cabina do motorista, que a essas alturas já havia descido do veiculo e estava pegando algumas ferramentas. Tratava-se apenas de um pneu furado o que para a maioria dos passageiros era um alívio mas, para mim significava mais algum tempo de atraso, mais algumas horas sem saber a verdade do que estava acontecendo com meu pai. Procurei ajudar o motorista na tentativa de diminuir o tempo perdido porem, como todos os passageiros homens tiveram a mesma iniciativa resolvi voltar ao interior do ônibus para ocupar minha poltrona. Tentei imaginar o que estava acontecendo em Alto Araguaia, pois ate este momento ainda não sabia que meu pai havia sido levado para Goiânia. A única coisa que consegui foi aumentar o aperto no coração. Procurei deixar de pensar naquilo voltando meu pensamento para o que tinha acontecido na história antiga da tentativa de prisão de meu avo. Nesse momento pude ate sorrir imaginando os soldados tocando viola e sanfona e o povão todo dançando.
Retomei a seqüência e cheguei ao momento em que a visita de meu pai terminou e ele retornou para cuidar de seu casamento que já estava marcado. Gertrudes sua noiva era moça frágil e muito bonita o que fez com que ele se apaixonasse e fizesse todo esforço para ter uma vida boa a seu lado. Como resultado desse casamento vieram quatro gravidez que resultaram em aborto e, apenas na quinta tentativa quando a gravidez foi cercada de todos os cuidados é que o destino resolveu tramar a favor do casal permitindo o nascimento de um bebe. Nasceu uma menina forte e saudável e que foi batizada com o nome de Benedita numa homenagem à avó. Aquele que parecia ser um momento de grande felicidade era apenas o começo do desespero de Juca. Quis agora o mesmo destino que desta vez a mulher que ele amava viesse a morrer após trinta e oito dias do parto, em função de uma recaída no resguardo. O desespero tomou conta de meu pai e sem ter controle da situação ele saiu pelo mundo andando de fazenda em fazenda sem ter um destino certo e deixando para traz tudo aquilo que ele havia conseguido durante muitos anos de trabalho pesado...

Olá a todos!

Continuo trabalhando mais do que deveria. Mesmo assim ainda consigo um tempinho para atualizar o blog. Espero que me ajudem a divulgar este trabalho.
Um abraço a todos(as)

Ilto Silva