sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A luta de um caboclo - Nona semana

Ao serem avisados com alguns minutos de antecedência sobre a presença da policia os homens que estavam no baile e que andavam armados correram todos para o mato incluindo entre eles meu avo e meu tio. Quando a policia chegou foi logo pulando dos cavalos e sem querer saber de nada foram apontando suas armas para minha avó exigindo que ela desse conta de meu avô sob pena de sofrer as conseqüências. Ao apontarem as armas para ela os filhos que ainda eram pequenos e em boa quantidade, correram todos para junto dela agarrando na barra de sua saia. Ela disse que não sabia do paradeiro do vovô, porem eles insistiram colocando os fuzis em seu peito e exigindo que ela desse conta de seu marido. Após algum tempo naquele lenga lenga e convencidos de que ela dizia a verdade, os policiais resolveram abandonar a missão. Era muito tarde da noite e a cidade mais próxima ficava muito longe. O comandante dos policiais resolveu que eles não iriam voltar naquela noite e, sem ter muito o que fazer o resultado acabou sendo o abandono das armas. Sem perda de tempo um soldado pegou a sanfona o outro o violão e cada qual mandou brasa como pode e o baile rolou a noite toda. Os homens que haviam corrido sem saber o motivo da presença da policia, deixaram seus revolveres, facas, peixeiras e punhais escondidos nas moitas e pouco a pouco foram voltando meio ressabiados para o baile que só acabou com o raiar do dia. A exceção neste caso foi meu avo e meu tio que avisados por alguns freqüentadores do baile, trataram de fugir e só retornar quando fossem avisados que estava tudo bem. Acredito que esta tenha sido a primeira vez que a policia realizou um evento social de diversão. Duro mesmo, foi no outro dia após a saída da policia os homens que deveriam ir cada qual para suas roças tiveram que passar o resto do dia procurando suas armas de moita em moita, pois na presa ninguém mais lembrava onde havia deixado. Neste dia o problema para meu avo foi resolvido com certa facilidade mas, como um dia é da caça e outro do caçador, essa perseguição tomou corpo e se tornou mais tarde o motivo de meu avô ter que vender por preço muito baixo tudo que havia construído e voltar a viver na região do buracão em Goiás afim de preservar sua vida e de seus filhos.
Voltando à minha viagem, neste momento tive minhas lembranças interrompidas por uma parada bastante rápida do ônibus. Olhei pelo corredor entre as poltronas tentando enxergar o motorista para ver se descobria o que estava acontecendo mas, não consegui ver nada porque eu estava sentado muito atrás. Me levantei e pude perceber que havia algum problema pois percebi que o motorista olhava pêlos retrovisores numa clara demonstração de que tentava estacionar o veiculo. O ônibus parou e entre os passageiros ficou um clima de curiosidade com todos olhando para todos como se estivessem perguntando o que houve sem encontrar as respostas. Resolvi então verificar o que estava acontecendo e me encaminhei para a cabina do motorista, que a essas alturas já havia descido do veiculo e estava pegando algumas ferramentas. Tratava-se apenas de um pneu furado o que para a maioria dos passageiros era um alívio mas, para mim significava mais algum tempo de atraso, mais algumas horas sem saber a verdade do que estava acontecendo com meu pai. Procurei ajudar o motorista na tentativa de diminuir o tempo perdido porem, como todos os passageiros homens tiveram a mesma iniciativa resolvi voltar ao interior do ônibus para ocupar minha poltrona. Tentei imaginar o que estava acontecendo em Alto Araguaia, pois ate este momento ainda não sabia que meu pai havia sido levado para Goiânia. A única coisa que consegui foi aumentar o aperto no coração. Procurei deixar de pensar naquilo voltando meu pensamento para o que tinha acontecido na história antiga da tentativa de prisão de meu avo. Nesse momento pude ate sorrir imaginando os soldados tocando viola e sanfona e o povão todo dançando.
Retomei a seqüência e cheguei ao momento em que a visita de meu pai terminou e ele retornou para cuidar de seu casamento que já estava marcado. Gertrudes sua noiva era moça frágil e muito bonita o que fez com que ele se apaixonasse e fizesse todo esforço para ter uma vida boa a seu lado. Como resultado desse casamento vieram quatro gravidez que resultaram em aborto e, apenas na quinta tentativa quando a gravidez foi cercada de todos os cuidados é que o destino resolveu tramar a favor do casal permitindo o nascimento de um bebe. Nasceu uma menina forte e saudável e que foi batizada com o nome de Benedita numa homenagem à avó. Aquele que parecia ser um momento de grande felicidade era apenas o começo do desespero de Juca. Quis agora o mesmo destino que desta vez a mulher que ele amava viesse a morrer após trinta e oito dias do parto, em função de uma recaída no resguardo. O desespero tomou conta de meu pai e sem ter controle da situação ele saiu pelo mundo andando de fazenda em fazenda sem ter um destino certo e deixando para traz tudo aquilo que ele havia conseguido durante muitos anos de trabalho pesado...

Olá a todos!

Continuo trabalhando mais do que deveria. Mesmo assim ainda consigo um tempinho para atualizar o blog. Espero que me ajudem a divulgar este trabalho.
Um abraço a todos(as)

Ilto Silva

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A luta de um caboclo - Oitava semana

Durante a realização desta empreita ele conheceu e contratou um rapaz por nome João Maia e que acabou se transformando em um grande companheiro não só pelo fato de se tornarem parceiros de cantoria mas, também porque este lhe apresentou sua cunhada, uma moça chamada Gertrudes, filha do casal Gabriel e Benedita Paniago. A relação de trabalho dos dois rapazes foi se tornando cada vez mais próxima e, pela amizade surgida, em determinado momento o João Maia convidou o Juca para cortejar sua cunha o que foi aceito por Juca de bom grado. Naquela época, ser convidado para se casar em uma família era uma verdadeira honra e, sabendo muito bem disso, Juca passou a cortejar aquela que viria a ser sua primeira esposa. Tudo estava correndo muito bem e com pouco tempo de namoro o que havia começado como um convite de um amigo se transformou em amor e eles acabaram marcando a data do casamento. Após o termino daquela empreita, e já com os preparativos do casamento em pleno andamento, meu pai voltou até a casa de seus pais já que sua mãe havia mandado recados para ele cobrando uma visita. O recado foi levado por seu próprio pai e por isso quando ele partiu em direção ao Jurigue já não havia mais a preocupação com as reações de seu pai. Sendo assim ao passar por Alto Araguaia, Juca fez uma parada em uma loja para comprar um tecido para sua mãe fazer uma roupa para ela e também algumas caixas de balas. A viagem continuou por mais dois ou três dias e quanto mais ele se aproximava da casa de seus pais, mais forte seu coração batia, afinal já faziam alguns anos que ele havia saído dali e voltar era no mínimo bom. Quando ele já estava a poucos quilômetros da casa ele e seu companheiro de viagem, seu pai, sacaram os revolveres e começaram a atirar para o alto numa espécie de saudação comum naquela época. Seus irmãos perceberam que aquela saudação vinha de alguém que trazia no peito muita saudade e concluíram que se tratava do retorno de Juca que a algum tempo precisou ir embora. Certos disso pegaram suas arma e responderam a saudação dando tiros para o alto. Minha avó Dª Rita, saiu apressada em direção a estrada afim de receber o filho por quem ela tanto tinha chorado de saudades. A chegada não podia ser melhor ele foi muito bem recebido por todos pois, trazia consigo alguns dos símbolos de independência dos rapazes da época; um revolver 38 da marca Shimit, um bom cavalo bem arreado e algum dinheiro no bolso. Antes de chegar em casa durante a viagem a sua preocupação não era com a forma como seria recebido, mas com a possibilidade de seu pai não levar em consideração a independência que ele havia conquistado e que por nada perderia. Ele sabia que se seu pai resolvesse criar algum problema, dificilmente ele manteria aquela conquista pois, de forma nenhuma um filho ousaria desobedecer o Sr Leopoldino. Se o fizesse com certeza sofreria as conseqüências. Sobre esse assunto conta-se que em certa época um de seus irmão, o tio Antônio, caiu na besteira de tentar a desobediência e fugiu de casa numa madrugada. Quando meu avo ficou sabendo do fato, montou em um cavalo e saiu a caça do fugitivo alcançando-o apenas dois ou três dias depois. Por coincidência neste dia alguém estava indo de carro de boi em direção a sua casa e meu avo não teve duvidas, pediu uma carona amarrando o tio Antônio pelas pernas e cuidando para que ele não fugisse. Ao chegar em casa deu-lhe um bom corretivo e disse a ele: Você vai trabalhar para mim mais um ano e depois disso eu mesmo vou lhe dar um cavalo arreado e ai sim você poderá ser dono de seu nariz! Quando isso aconteceu o tio Antonio já tinha sua maioridade, fato sem importancia no pensamento de seu pai.
Desta forma era compreensível a preocupação de Juca porem, logo que chegou ele percebeu que as coisas não estavam muito tranqüilas naquelas bandas. Alguns vizinhos da familia estavam criando problemas para meus avós, o que impedia que meu avo se preocupasse com a liberdade conquistada por Juca. Ele indagou sobre os motivos e logo ficou sabendo que era por inveja ao grande numero de benfeitorias na terra de meu avo e quer haviam sido conseguidas a cada ano que passava. Meu avo era homem muito trabalhador e todos os anos tocava muita roça, abrindo com rapidez suas terras. O fato de ter muitos filhos e também de sempre ter peões a seu serviço lhe trazia certa vantagem, e assim em pouco tempo sua fazenda já estava bem formada e com muito desenvolvimento. Com inveja de suas realizações e sem ter como fazer tanto quanto ele conseguia, esses vizinhos passaram a criar todo tipo de dificuldades do tipo provocações e insultos, chegando até mesmo a conseguir mandato de prisão para meu avo e seu filho mais velho o tio João, acusando-os de invasão de terras na construção de uma cerca de divisa. Nesta época a policia foi mandada ate a casa de meu avo para cumprir o tal mandato de prisão e coincidentemente chegou na fazenda no dia em que eles realizavam um baile...

Olá

Aqui estou eu novamente depois de alguns dias trabalhando em excesso... como sempre.
Vou tentar não faltar com as postagens novamente.

Um abraço a todos(as)

Ilto

terça-feira, 20 de julho de 2010

A Luta de um caboclo - Sétima semana

Em mil novecentos e quarenta e um, ele estava agora com dezessete anos e as características físicas aliadas a sua característica festeira fez com que a mulher de um vizinho se enrabichasse por ele. O marido dela claro não achou aquilo nada engraçado e acabou por fazer uma jura de morte passando a persegui-lo. Este fato levou meu avo a tomar a decisão de protegê-lo, mesmo que para isso fosse necessário afastá-lo dali. Nesta época chegou naquela região um homem também chamado José e que também atendia pelo apelido de Juca, só que neste caso Juca Pudico. Este homem viajava no trajeto buracão/Jurigue vendendo e comprando mercadorias que transportava em carro de boi. Ao saber da situação acabou por tomar as dores de meu pai por considerá-lo parente seu. Na verdade meu pai era primo de sua esposa. Ele combinou com meu pai de tirá-lo da região escondido no seu carro de bois. Em um determinado dia ao cair da tarde, sabendo que os responsáveis pela jura estavam de tocaia perto da casa de meu avo, o Juca Pudico carregou seu carro de tal forma que os homens pudessem constatar que meu pai não estava dentro do mesmo e depois disso, colocou-se a caminho. Andou alguns quilômetros ate ter certeza que não estava sendo seguido e alguns quilômetros à frente meu pai que já estava esperando por ele escondido na mata, entrou no carro e o Juca Pudico o tampou com um couro de vaca e jogou mercadorias e depois com mantimentos (milho, arroz...) por cima. Meu pai viajou ali respirando com o ar que entrava pelas gretas (frestas) das tábuas do assoalho do carro por toda a noite e também no outro dia. Durante este tempo o Juca Pudico e seu carro foi parado duas vezes em mais duas tocaias que haviam sido armadas, mas o fato do Juca Pudico ser muito conversador e conhecido na região fez com que os agressores não achassem meu pai. Assim ele chegou são e salvo no Buracão onde ele ficou morando na casa de uma de minhas tias chamada Francisca. Aliás, a tia Francisca é um caso a parte, pois ela conseguiu superar minha avó no numero de filho tendo nada mais nada menos que vinte e um sem a ajuda de médico e sem jamais entrar em um hospital. Todos seus filhos nasceram em casa sendo que desses, dezessete sobreviveram. Tenho grande carinho por ela que ainda está viva aos noventa e três anos. Ali, na casa da tia Francisca, meu pai ficou morando e trabalhando. Ali ele tinha comida e roupa lavada, mas, aquilo não era o bastante e ele sabia que dali para frente sua vida estava em suas próprias mãos. Por isso, sabendo que teria muito a realizar e que não podia perder tempo, tratou logo de arrumar trabalho a fim de se manter. Em sua primeira empreitada trabalhando por conta própria, ele foi ajustado (contratado) pôr um fazendeiro chamado Ilidio Caetano. Lá ele ia roçar e derrubar uma mata para plantar vinte mil covas da cana que seriam usadas na moagem para a produção de rapadura, cachaça e açúcar de barro. Naquela época a cana era plantada em covas de 40x40cm e não da forma que é plantada hoje dentro de valas compridas. Essa empreita foi pega na companhia de dois companheiros que eram cunhados da tia Francisca. O que parecia algo fácil de realizar acabou por se tornar um problema, pois, após a abertura de duas mil covas, os companheiros tiveram que sair para resolver problemas pessoais deixando-o com uma imensa dificuldade nas mãos e obrigando-o a correr atrás de outros companheiros para terminar o serviço. Este fato apesar dos problemas que causou lhe foi muito benéfico, pois enfrentar sozinho aquela empreita lhe deu confiança e disposição para continuar sempre derrubando as dificuldades que o destino pudesse lhe ter reservado.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A Luta de um caboclo = Sexta semana

Ele viu neste fato uma grande chance de ter seu sonho realizado já que sendo aceito pelo Exercito ele finalmente sairia da casa de seus pais e tomaria o rumo que quisesse a partir dai. Tudo estava indo muito bem e ele aguardaria mais e no ano de quarenta ele se alistaria. Uma informação de alguém que passava pela região do Jurigue porem, mudou tudo. Esta pessoa dizia ter ouvido falar que o Exercito estava prevendo a falta de contingente no ano de trinta e nove e que por isso todos os alistados neste ano seriam aceitos. Ouvindo aquela informação ele não teve dúvidas e providenciou com urgência a antecipação de seu alistamento. Para isso naturalmente ele teve que mentir sobre sua real idade e aproveitando-se do fato de que até esta época ele ainda não era registrado, ao faze-lo aumentou em um ano seu nacimento. Ele nasceu em vinte e três mas registro-se como se tivesse nascido em vinte e dois, conseguindo assim seu tão sonhado alistamento. Feito isto restava a ele apenas esperar pela chamada do Exercito Brasileiro. O tempo passou e ele continuava em sua dura rotina de trabalho nas roças de seu pai e também em trabalhos de carpinteiro que agora ele já realizava com grande destreza . Depois de muita espera finalmente chegou a hora dele saber o resultado, e ansioso ele partiu para a cidade de Alto Araguaia na divisa dos estados de Goiás e Mato grosso as margens da BR 364, onde ele havia se alistado. Baseando-se na informação que havia recebido ele contava como certa a entrada para o Exercito. Para sua mais absoluta surpresa, devido ao excesso de contingente daquele ano, a grande maioria dos alistados que eram nascidos no ano de vinte e dois foram dispensados do serviço obrigatório. Tristemente ele descobriu que fazia parte desta maioria. A dispensa do Exercito tirou de meu pai alem da oportunidade de sair do domínio de meu avô, a chance de fazer carreira militar. Não querendo me desfazer da carreira militar nos dias de hoje, mas com o objetivo de valorizá-la, esta era uma das carreiras mais importantes da época. Ela só perdia para a carreira de Professor que alem de ser visto como mestre, era tido como alguém que havia conseguido acumular conhecimento e merecia respeito. Assim ele viu mais uma chance ir embora e, apesar deste desencontro promovido pelo destino a vida continuava e lá dentro ele sabia que a oportunidade chegaria. Ele queria crescer e iria buscar as oportunidades em qualquer que fosse a área e, em sua cabeça ficou firme a idéia de ser um militar. Sonho que ele não alcançou.
A vida da família continuava na mesma rotina e apesar de meu avo ser um homem muito rígido, por outro lado era também muito festeiro. Bom tocador de viola, gostava muito de cantar, de dançar catira, de beber e farrear. Características que foram herdadas por alguns dos filhos, principalmente meu pai que ainda rapaz aprendeu tocar a viola e cantar. Um dos motivos para eles sempre serem chamados para as festas da região. Meu pai, assim como meu avo era moreno, esbelto, forte e tinha olhos claros. O que sem dúvida nenhuma lhes traziam algumas vantagens com as mulheres e despertava a preocupação dos homens. Isso jamais foi motivo de preocupação para eles e, meu pai não imaginava que tais características seriam suas aliadas na realização de um de seus sonhos. O de sair da casa de seu pai.


Ola a todos(as)!

O trabalho continua me tomando mais tempo do que eu gostaria, graças a Deus. Assim, as postagens que tentei manter sempre em dia, ainda não esta a contento. Mesmo assim estou cada dia mais contente com os resultados e mais uma vez agradeço a todos.

Um abraço...

Ilto Silva

terça-feira, 29 de junho de 2010

A Luta de um caboclo - Quinta semana

Ao olhar para a poltrona ao lado vi uma criança de aproximadamente um ano de idade porem com uma cabeça maior que a de um adulto. O garotinho sofria de Hidroensefalite congênita, uma doença que leva ao crescimento exagerado da caixa craniana. Algo desse tipo. Minha surpresa foi imensa e na tentativa de disfarçar minha reação me dirigi à mãe um pouco envergonhado e indaguei sobre o que era aquilo. A mãe que parecia uma pessoa simples e acredito que fragilizada pelo problema me respondeu com muita humildade dizendo o nome daquela terrível doença. Continuei no que havia me proposto a fazer e mesmo sem muita vontade fui ao banheiro. Por alguns momentos quase esqueci que estava ali levado pela possibilidade de que poderia estar acontecendo algo de terrível dentro de minha família. A visão daquela criança tão pequenina e com aquele peso imenso para carregar era algo tão terrível e impressionante que daquele momento em diante tudo que eu queria era poder fazer algo por ela. Mesmo sem muita coragem para encarar aquela situação, ao voltar do banheiro não consegui ir para minha poltrona e sentei-me numa poltrona no outro lado do corredor. Pouco a pouco fui me acostumando com aquela visão tão nova para mim e pude observar melhor aquela criança. Ela tinha a cabeça do tamanho de uma melancia de porte grande, os olhos eram saltados com sessenta por cento do globolo exposto e, o que mais me impressionou foram as tentativas inúteis da criança em se virar na poltrona. Cada vez que ele tentava eu via apenas seu corpinho se virando sem que a cabeça acompanhasse e aquilo me causava uma aflição muito grande. O ônibus começou a andar novamente e meio sem graça comecei a conversar com aquela senhora. Assim fiquei sabendo que ela estava indo para Londrina no estado do Paraná para tentar fazer uma operação cujo objetivo não era reduzir mas, apenas impedir o crescimento da caixa craniana daquela criança. Perguntei a ela sobre seu marido e ela disse que ele havia ficado em sua cidade no estado de Rondônia e que não a acompanhava porque não tinham dinheiro suficiente. Contou-me que para fazer aquela viagem eles haviam contado com a colaboração das pessoas que fizeram uma campanha publica para esse fim. Depois de algum tempo de conversa e já um pouco mais a vontade ela me contou que, segundo o que os médicos haviam dito a ela e ao marido, a doença age da seguinte forma: O liquido que passa pelo celebro para irriga-lo fica armazenado por algum tempo e depois é liberado por uma válvula e absorvido pelo organismo. No caso daquela criança essa dita válvula não funciona e esse líquido acaba por acumular no celebro provocando o crescimento da caixa craniana. Me lembro bem que daquele momento em diante meu coração continuava muito triste e meus pensamentos divididos entre a preocupação com meu pai e com a criança que me provocou aquela visão que, certamente leva a maioria das pessoas a desejarem, assim como eu , jamais te-la tido. Mesmo
com os meus pensamentos vacilantes, me veio a lembrança de como meu pai se lamentava ao contar sobre o desencontro que foi a história de seu alistamento. O ano era mil novecentos e trinta e nove e no ano seguinte ele iria se alistar.


Olá a todos!
Continuo na correria de sempre. Trabalhando feito gente grande. Hoje estou em Goiânia de onde estou postando esta parte do livro. Gostaria de continuar contando com vossa audiência e colaboração para divulgar este trabalho. Um abraço a todos !

Ilto Silva

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A Luta de um caboclo - Quarta semana

Essa labuta lhe rendeu muita correria no mato atrás de porco desembestado, exigiu muita paciência com porco que afrouxava e lhe trouxe muita solidão. O caminho que eles utilizaram podia ser feito totalmente nu sem a menor preocupação de cometer atentado ao pudor. Ali não passava uma viva alma o dia todo. E depois de trinta longos dias nessa verdadeira batalha, finalmente eles chegaram ao local onde meu avo havia adquirido as terras. Apesar do cansaço que todos estavam sentindo, eles tinham uma fazenda para montar e uma roça que meu avô e meu pai haviam feito alguns meses antes e que precisava ser tocada. Por isso não tinham tempo a perder e a rotina do trabalho de sol-a-sol voltou novamente.
Alguns anos se passaram e a tarefa inicial de montagem da fazenda ia sendo realizada por etapas. A falta de estudos não era impedimento para o aprendizado. O pouco conhecimento que tinha de matemática e português aliados a sua sede de conhecimento, foi o bastante para que ele aprendesse o oficio da carpintaria e com poucos anos ele já sabia fazer quase tudo na profissão. Na carpintaria, você precisa aprender e se treinar nos trabalhos básicos como: cortar com o serrote aparando madeira; usar a enxó para realizar alguma lavragem e algum acabamento; aparar com um gurpião a madeira que ainda está em toras, você também precisa saber usar um esquadro ou um compasso para riscar e marcar antecipadamente onde cortar a madeira; ou utilizar uma plaina para dar acabamento ou para desbaste da madeira. Alem de tudo isso, você precisa principalmente, avazar e afiar estas ferramentas para que elas façam sempre um corte macio e linear. De posse destes conhecimentos, o desenvolvimento profissional depende muito mais da esperteza do que de ensinamentos de terceiros. Para meu pai aprender nunca foi problema já que tudo que ele queria da vida era exatamente ter esta chance.
De volta à minha realidade, mais alguns quilômetros haviam se passado e agora estávamos chegando ao Cacho, um restaurante que fica no entroncamento para Mirassol D oeste na BR – 174 que liga Cuiabá – MT a Porto Velho – RO. Ali eu já me sentia um pouco cansado e resolvi descer para descansar um pouco. Fiquei ali fora do ônibus por algum tempo mas sem vontade de conversar com as pessoas, achei que cinco minutos de espera já estavam demasiadamente demorados e resolvi entrar e aguardar lá dentro. Ao entrar novamente no ônibus e caminhar pelo corredor foi que percebi algo que me deixou bastante surpreso e assustado. Em uma poltrona duas ou três filas atrás de onde eu estava notei uma senhora aparentando trinta anos de idade sentada em uma poltrona com uma criança deitada na poltrona do lado. Tudo seria perfeitamente normal não fosse o esforço da criança na tentativa de chorar. Achei o som um tanto estranho para um choro de criança e sem coragem de me aproximar, sentei no braço de minha poltrona e fiquei imaginando o que poderia estar acontecendo. Alguns minutos se passaram e sem que eu esperasse tornei a ouvir o som que desta vez foi mais alto. Dava-me a impressão de que ali tinha uma criança que estava sufocada por alguma coisa e que por isso não conseguia emitir o som característico do choro. Pensando que talvez a mãe da criança tivesse se descuidando da mesma disfarcei a minha curiosidade e fingi necessidade de ir ao banheiro apenas para passar perto e verificar o que estava havendo. Ao chegar perto da senhora que me cumprimentou com um aceno de cabeça quase não consegui responder tamanha foi minha surpresa. Olã a todos!


(Estou imensamente feliz pelas manifestaçoes positivas a respeito da iniciativa de divulgar este trabalho via blog. Acredito que pode ser um bom caminho para divulgarmos trabalhos sem ter que desembolçar o alto custo da publicaçao de um livro. Agradeço a todos que estão se esforçando para me ajudar neste trabalho. No entanto, como ainda sou um aprendiz nesta ferramenta, estou pedindo ajuda para melhorar esta publicação. Comentem! Dê sujestão! Critique!)

Um abraço a todos!

Ilto

terça-feira, 8 de junho de 2010

A Luta de um caboclo - Terceira semana

Contou-me sobre o lugar onde nasceu. Ele dizia que se chamava “buracão” e que se tratava de um lugar isolado, porem plano e formado com capim jaragua, natural naquela região. Devido ao fato de ser necessário descer a Serra da Urtiga no município de Mineiros -GO, é que o local recebeu esta denominação. O Buracão era um daqueles lugares que ficava afastado de tudo e que havia sido esquecido por todos. Por tudo isso é que meu pai referia-se a ele como um sertão bruto. Foi neste cenário que em Janeiro de vinte e três nascia o quarto dos doze filhos que tiveram o Sr. Leopoldino Rodrigues da Silva e Dª. Rita Rosa Batista . O casal nascidos, ele em Minas Gerais e ela em Goiás foram criados na mais absoluta ignorância . Para eles o único tipo de vida que conheceram era a vida do trabalho duro, onde o correto era levantar bem cedo, ir para o mato balançar um machado ou para a roça puxar uma enxada do amanhecer ao entardecer. Isto era o mínimo que um cidadão que pretendia se candidatar a homem podia fazer. Tendo sido criados assim é compreensível que o Sr. Leopoldino não julgasse ser importante os estudos e dessa forma ele alem de não incentivar os filhos a estudar ainda tornava isso proibido para as filhas, com a justificativa baseada na seguinte frase: Pra que mulher aprender a ler? Só pra arrumar rolo e escrever carta pra namorado? Quanto aos filhos homens ele considerava perda de tempo os estudos mas neste caso era um pouco mais maleável e influenciado pela esposa que levava ate ele a súplica dos filhos acabava Por aceitar e até mesmo a ensinar o pouco que ele sabia, mas isso sempre depois do trabalho pois pra ele não se podia perde nem mesmo um minuto de trabalho com os estudos. Assim quando meu avô comprava alguns cadernos para os filhos e ele ou outra pessoa que soubesse escrever passava alguma lição para meu pai e seus irmãos no outro dia e nos dias que se seguiam, correndo o risco de serem descobertos, eles ficavam como bandidos, escondendo-se aqui e ali para fazerem as lições e quando os cadernos acabavam, com pedaços de pau eles escreviam no chão ou em folhas de bananeiras as lições aprendidas . Essas lições podiam não ser grandes mas eles jamais esqueciam porque sabiam que outra oportunidade talvez demorasse meses ou ate mesmo anos para chegar. Assim meu pai e seus irmãos foram acumulando o que para eles era uma grande riqueza e com o passar dos anos acabaram por aprenderem a ler e escrever e mesmo sem jamais ter tido a alegria de se sentar em um banco de escola meu pai lia, escrevia e fazia contas as vezes sem nem mesmo precisar de lápis e papel. Cada vez que meu pai me contou esta história eu pude perceber em seu rosto uma certa tristeza por seu pai não ter se esforçado para lhe dar a chance de estudar mas pude ver também que ele jamais teve a intenção de condena-lo já que ele sempre terminava esta história dizendo: “coitado ele foi criado nesse sistema”, numa clara declaração de que jamais guardou rancor. Enquanto eu pensava sobre isso, e depois de alguns minutos de viagem, meu ônibus já havia andado trinta e seis quilômetros e estávamos chegando a Porto Espiridião e por alguns instantes meu pensamento fugiu da história de meu pai mas, não por muito tempo já que a cidade era pequena e este ônibus não fazia parada nela. Desta forma um minuto após já tínhamos passado pela cidade e então meus pensamentos voltaram para as lembranças de meu pai e sua vida. Por alguns instantes fiquei pensando como seria viver naquele sistema onde alem de tudo ser absolutamente difícil ainda havia a ignorância daqueles que mandavam. Conclui que seria praticamente impossível suportar e foi inevitável a pergunta a mim mesmo. Como então meu pai conseguiu? Pelo que ele contava, não tinha opção mas, eu sabia que ele jamais concordou com aquela vida pois me lembro de vê-lo dizer que a partir de certa idade a maior ocupação de sua cabeça era tentar descobrir uma maneira de conseguir sair da casa de seus pais e ganhar a liberdade que ele tanto sonhava. Isso passou a ser objetivo de vida e foi assim que ele viveu a sua adolescência. Este objetivo tornou-se ainda mais forte quando chegou a sua juventude.
Foi nessa época que seu pai movido pela necessidade de ter um certo crescimento financeiro resolveu adquirir umas terras um pouco maiores para poderem trabalhar. Sendo assim após poucas vindas a Mato Grosso eles já estavam prontos para se mudar da região do buracão onde viviam para uma outra região no município de Itiquira - MT, mais precisamente na cabeceira do rio Jurigue. Para fazerem a mudança foram utilizados três carros de bois e alguns cavalos. Era o ano de trinta e seis e o casal Leopoldino e Rita já tinham nove filhos. Nesta época meu pai já estava com treze anos de idade e pelo fato de ser um dos filhos homens mais velhos ele foi encarregado pelo meu avô de fazer esta viagem a pé para tocar os porcos. Parece brincadeira mas não é. Ele tinha que viajar tocando os porcos da mesma maneira que se toca gado, fazendo com que eles andem vários quilômetros por dia. Para quem nunca teve a oportunidade de fazer tal trabalho talvez não imagina o grau de dificuldade, mas para quem já passou por isso sabe que porco não é muito a favor de longas caminhadas. Sabendo que a dificuldade em realizar este trabalho era imensa, para que meu pai, o Juca Lipurdino, ganhasse tempo, meu avo o chamava às quatro horas da manha. Ele se levantava, lavava o rosto, tomava uma caneca de café e sem muita demora iniciava sua jornada enquanto minha avó iniciava a preparação do almoço. Depois do almoço pronto, e os carros de bois carregados com a traia de cozinha, a comitiva se colocava a caminho e aproximadamente depois de duas horas de caminhada, ao passarem por meu pai lhe entregavam seu caldeirão de comida que servia como almoço, merenda e às vezes janta. A comitiva ia embora e quando estava anoitecendo escolhiam um novo ponto de pouso onde iam fazer a janta e esperarem que lá pelas nove ou dez horas da noite meu pai chegasse com a porcada para dormir e no outro dia repetir tudo de novo.


(Olá a todos! Me propus a tornar esta página semanal e devido a correria do dia a dia isto tem se tornado um pouco difícil. Prometo que vou me esforçar para cumprir este objetivo. Obrogado a todos! Ilto Silva)

terça-feira, 1 de junho de 2010

A Luta de um caboclo - Segunda semana

• O Vantuil está na casa do papai, ele veio dizer que o Valdir ligou para avisar que seu pai está passando mal.
• O que aconteceu com ele? Perguntei!
• Não sei, mas o Vantuil está te esperando para te levar para o Pedro Néca para você pegar um ônibus e ir para Cuiabá. (Pedro Neca, trata-se de um desbravador de uma região localizada às margens da BR 174 no município de Porto Esperidião - MT e que fica a vinte e três quilômetros do Córrego Fundo onde eu morava. Pai do amigo Vantuil e mais quatro filhos e uma filha. Sua primeira morada na região hoje é uma vila em pleno crescimento. Homem corajoso e lutador ao morrer deixou para os filhos um bom começo na área de comércio varejista de combustíveis e secos e molhados).
Após essa breve conversa com minha esposa pegamos nossas filhas e saímos andando em silêncio até meu barraco feito com esteios de aroeira, vigas e caibros tirados de uma grande arvore de guatambu, paredes feitas de tábuas de abobrão e coberto com folhas de bacuri. Enquanto caminhava muitos pensamentos passaram em minha cabeça e todos eles parece que vieram de propósito para tentar me convencer de que talvez se tratasse apenas de um problema simples, mas as circunstancias mostravam o contrario. Pela maneira como eu e meus irmãos fomos criados, preservando a individualidade de cada um e a maneira como eu conhecia meu pai não deixava que aqueles pensamentos me convencessem. Dentro de mim eu sabia que o pior estava acontecendo pois, em primeiro lugar meu irmão Valdir jamais iria incomodar uma pessoa pedindo que ela se deslocasse vinte e sete quilômetros dos quais quatro de estrada de terra, se ele não tivesse certeza de que se tratava de um problema realmente sério, em segundo lugar, meu pai apesar dos quase setenta anos de idade, sempre teve uma saúde de ferro e não seria uma doença simples que o derrubaria. Isto foi exatamente o que eu disse a minha esposa quando ela tentou me acalmar enquanto eu me enxugava sentado em nossa cama após ter tomado um banho e já me preparando para ir de encontro a constatação que meu coração recusava acreditar mas que minha cabeça não tinha nenhuma dúvida.
Descemos em direção a casa principal da fazenda através de um caminho que nesta época havia se estreitado pelo excesso de mato que no inverno tem maior facilidade para crescer. O mato havia transformado aquele caminho em algo parecido com um túnel e isso parecia contribuir para que meus pensamentos se fixassem no que estava acontecendo, e que eu acreditava ser em Alto Araguaia, pois ate aquele momento não tinha maiores informações sobre o fato. Caminhei calado o que ao invés de me ajudar parece que só conseguia fazer com que aquele caminho que não tinha mais que quinhentos metros ficasse tão longo que parecia não acabar nunca. Depois de algum tempo chegamos a seu final e isso me trouxe a ilusão de que o amigo Vantuil traria algum alívio através de informações mais detalhadas. Engano meu pois sem saber qual seria minha reação diante do fato ou talvez por realmente não ter conhecimento destes, ele apenas me disse que não sabia de nada alem do que já havia dito e isto de certa forma me confortou trazendo a sensação de que nem tudo estava perdido. Por mais alguns minutos ficamos sentados ali na cozinha enquanto o Vantuil e meu Sogro terminavam uma conversa que com toda a sinceridade eu não tenho a menor idéia do que se tratava. É provável que falavam de política já que o Vantuil sempre foi uma pessoa bastante ligado a vida política do município e meu sogro apesar de pessoa simples gosta de estar sempre por dentro do tema. Terminada a conversa me despedi de todos e a cada pessoa com quem eu falava percebia no olhar um sinal de uma mistura de tristeza e pena que soava quase que como um pedido de desculpas pelo ocorrido. Isso me levou a pensar ainda mais em tudo o que estava acontecendo e, mesmo com a cabeça cheia com toda aquela situação não pude deixar de pensar em como faria para chegar a Cuiabá já que naquela hora não havia linha de ônibus regular no trajeto Pontes e Lacerda/Cuiabá. Neste caso pensei: ou eu iria de carona o que não seria nenhuma novidade em minha vida ou teria que aguardar a hora certa do ônibus o que me atrasaria demasiadamente. Enquanto viajávamos da fazenda até o Pedro Néca trocamos umas poucas idéias e quando já estávamos perto da Vila Pedro Néca ultrapassamos um ônibus que pertencia a uma outra linha dentro do mesmo trajeto. Devido ao conhecimento e a amizade do Vantuil consegui a autorização de embarque para Cuiabá . O ônibus parou na rodovia em frente ao posto Pedro Néca e sem tempo para mais nada agradeci ao Vantuil e embarquei para espanto de alguns passageiros que sabiam que aquela não era uma parada regular. Isso com certeza deve ter trazido alguma apreensão a eles pois naquela região àquela época ouvia-se falar muito sobre roubo de carretas e de outros tipos de perigos a mais. O ônibus começou a andar e após verificarem que se tratava apenas de um perdido procurando caminho os passageiros voltaram a sua rotina e eu tratei de conseguir um lugar para me sentar. Por sorte encontrei duas poltronas juntas e vazias o que me permitiu ficar só. Sentei-me na poltrona após colocar minha mochila no bagageiro superior e sem ter com quem conversar, o que aliás para mim não faria a menor diferença pois não teria cabeça para isso, bastou olhar pela janela do ônibus para que em minha cabeça se abrisse a janela do passado e, meus pensamentos fossem levados para os momentos em que meu pai me contava fatos de sua vida. Esses fatos sempre me atraiam bastante e tudo que ele me contava sempre ficou guardado em minha mente, mas naquele momento em função de eu parecer adivinhar o que estava acontecendo o que mais me chamava a atenção era saber como tudo aquilo tinha começado e me lembrei que certa vez meu pai tinha me contado sobre isso.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A Luta de um caboclo - Primeira semana







Primeira Parte

Era dia treze de janeiro de um mil novecentos e noventa e três e apesar de ser uma quarta feira, e em uma fazenda isso significar ser um dia de muito trabalho, eu me levantei bastante tarde, pois havia trabalhado até altas horas da noite anterior para terminar a preparação de umas terras para o plantio. Não me lembro se estava gradeando ou nivelando as tais terras. Era um dia de sol e fazia um tempo gostoso, pois, estávamos em pleno veranico, período no qual segundo os antigos, são determinados quais meses do ano terá chuva ou sol. Neste dia ou em outro qualquer não me preocupava muito com a idéia cultivada por alguns a minha volta de que levantar tarde, não é algo recomendável a um homem de honra e caráter. Sendo assim, sem nenhuma preocupação e me sentido extremamente cansado pêlos solavancos que um trator proporciona, levantei-me e fiz minha higiene pessoal, fui ao mato, lá não tínhamos banheiro dentro de casa. Tomei meu café e é claro fiz um belo cigarro de palha que na época era o que eu podia pagar. Naturalmente aquele dia não seria dedicado ao trabalho pesado apenas a trabalhos leves do tipo pegar o pneu furado de uma carroça, carregar alguns quilômetros até a beira do asfalto e num ônibus leva-lo até a cidade para consertar. (Levíssimo não? Tipo assim, um ser humano normal ao saber que tem que fazer isso, certamente senta e chora). Como essa era a minha tarefa naquela manhã, acompanhado de duas de minhas filhas fui até o local onde a coroça estava à beira da estrada quase dentro do mato. Com a força de meus braços ergui a carroça escorando-a com um pedaço de pau, retirei o pneu e quando já
estava pronto para ir embora vi minha esposa que estava vindo em minha direção. Ao avistá-la vindo do outro lado da aguada (Pequena mina d’água que inicia um riacho, que se transforma em ribeirão, em córrego... etc.) não sei se foi a maneira um tanto rápida como ela caminhava ou se foi meu sexto sentido que me mostrou que algo estava errado. Meu alarme interno despertou, me contando que havia algo de ruim acontecendo. Isto acontece em todos os momentos de minha vida e, seja para coisas boas ou ruins, não importa ele sempre aparece, é uma pena que nunca aprendi a interpretá-los, pois se tivesse aprendido talvez pudesse ter evitado algumas coisas... ou não. De qualquer maneira recebi o aviso e apesar dela estar muito próximo ainda tive tempo de me preparar internamente para que a notícia mesmo que muito ruim não fosse o bastante para me desmontar. Isto sempre foi meu maior medo. Ela atravessou rapidamente a pequena grota por onde descia a água que alimentava a represa e subiu do outro lado vindo ao meu encontro. Naquele momento houve um silêncio tão grande que parecia que eu podia ouvir o barulho da água que minava a algumas dezenas de metros acima ou ouvir qualquer galho ou folha caindo distante dali. Apesar da curta distancia entre nós aquele momento durou muito mais do que normalmente duraria. Notei em seu olhar que ela estava apreensiva, a ansiedade tomou conta de mim e naquele momento mil coisas passaram em minha cabeça, mas eu não conseguia fixar-me em nenhuma, pois a única coisa que prendia minha atenção era exatamente sua expressão que misturava preocupação e uma certa tristeza. Nesse momento tive a sensação de que nada mais existia a nossa volta, que tudo havia desaparecido restando assim, só eu, ela e o suspence que se instalou ali. Ela aproximou-se de mim com certa cautela e disse:

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Sabe o que vou fazer?

Vou reeditar através desta ferramenta meu primeiro livro "A Luta de um caboclo" cujo tema é a biografia de meu pai, José Rodrigues da Silva (Conhecido como Juca Lipurdino), um caboclo que teve como marca da vida(Virtude) ter coragem de se levantar e continuar cada vez que a vida o derrubou. Neste livro duas histórias se intercalam. A primaira é a dele, O Juca lipurdino e a segunda é a experiência pela qual passei em dois dias em que viajei da fazenda onde morava no muinicipio de Porto Esperidião - MT até a cidade de Alto Araguaia - MT onde fui velar e enterrar o corpo do caboclo, Juca Lipurdino.

Espero que todos gostem...

Um abraço

Ilto Silva

Minha Iniciação em Blogs

Pela segunda vez estou fazendo uma abertura para este... esta... este blog. Que legal eu tento blog! Estou entrando neste setor da informática com um objetivo mas não tenho certeza se estou com a ferramenta adequada. Mesmo assim vou continuar, afinal, todo mundo tem blog porque não eu? Enfim, aqui estou e, se esta ferramenta é o que penso, logo logo estarei desenvolvendo meu objetivo.

Abraços a todos que aqui passarem

Cuiabá 17 de Maio de 2010

Ilto Silva