terça-feira, 20 de julho de 2010

A Luta de um caboclo - Sétima semana

Em mil novecentos e quarenta e um, ele estava agora com dezessete anos e as características físicas aliadas a sua característica festeira fez com que a mulher de um vizinho se enrabichasse por ele. O marido dela claro não achou aquilo nada engraçado e acabou por fazer uma jura de morte passando a persegui-lo. Este fato levou meu avo a tomar a decisão de protegê-lo, mesmo que para isso fosse necessário afastá-lo dali. Nesta época chegou naquela região um homem também chamado José e que também atendia pelo apelido de Juca, só que neste caso Juca Pudico. Este homem viajava no trajeto buracão/Jurigue vendendo e comprando mercadorias que transportava em carro de boi. Ao saber da situação acabou por tomar as dores de meu pai por considerá-lo parente seu. Na verdade meu pai era primo de sua esposa. Ele combinou com meu pai de tirá-lo da região escondido no seu carro de bois. Em um determinado dia ao cair da tarde, sabendo que os responsáveis pela jura estavam de tocaia perto da casa de meu avo, o Juca Pudico carregou seu carro de tal forma que os homens pudessem constatar que meu pai não estava dentro do mesmo e depois disso, colocou-se a caminho. Andou alguns quilômetros ate ter certeza que não estava sendo seguido e alguns quilômetros à frente meu pai que já estava esperando por ele escondido na mata, entrou no carro e o Juca Pudico o tampou com um couro de vaca e jogou mercadorias e depois com mantimentos (milho, arroz...) por cima. Meu pai viajou ali respirando com o ar que entrava pelas gretas (frestas) das tábuas do assoalho do carro por toda a noite e também no outro dia. Durante este tempo o Juca Pudico e seu carro foi parado duas vezes em mais duas tocaias que haviam sido armadas, mas o fato do Juca Pudico ser muito conversador e conhecido na região fez com que os agressores não achassem meu pai. Assim ele chegou são e salvo no Buracão onde ele ficou morando na casa de uma de minhas tias chamada Francisca. Aliás, a tia Francisca é um caso a parte, pois ela conseguiu superar minha avó no numero de filho tendo nada mais nada menos que vinte e um sem a ajuda de médico e sem jamais entrar em um hospital. Todos seus filhos nasceram em casa sendo que desses, dezessete sobreviveram. Tenho grande carinho por ela que ainda está viva aos noventa e três anos. Ali, na casa da tia Francisca, meu pai ficou morando e trabalhando. Ali ele tinha comida e roupa lavada, mas, aquilo não era o bastante e ele sabia que dali para frente sua vida estava em suas próprias mãos. Por isso, sabendo que teria muito a realizar e que não podia perder tempo, tratou logo de arrumar trabalho a fim de se manter. Em sua primeira empreitada trabalhando por conta própria, ele foi ajustado (contratado) pôr um fazendeiro chamado Ilidio Caetano. Lá ele ia roçar e derrubar uma mata para plantar vinte mil covas da cana que seriam usadas na moagem para a produção de rapadura, cachaça e açúcar de barro. Naquela época a cana era plantada em covas de 40x40cm e não da forma que é plantada hoje dentro de valas compridas. Essa empreita foi pega na companhia de dois companheiros que eram cunhados da tia Francisca. O que parecia algo fácil de realizar acabou por se tornar um problema, pois, após a abertura de duas mil covas, os companheiros tiveram que sair para resolver problemas pessoais deixando-o com uma imensa dificuldade nas mãos e obrigando-o a correr atrás de outros companheiros para terminar o serviço. Este fato apesar dos problemas que causou lhe foi muito benéfico, pois enfrentar sozinho aquela empreita lhe deu confiança e disposição para continuar sempre derrubando as dificuldades que o destino pudesse lhe ter reservado.

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