terça-feira, 29 de junho de 2010

A Luta de um caboclo - Quinta semana

Ao olhar para a poltrona ao lado vi uma criança de aproximadamente um ano de idade porem com uma cabeça maior que a de um adulto. O garotinho sofria de Hidroensefalite congênita, uma doença que leva ao crescimento exagerado da caixa craniana. Algo desse tipo. Minha surpresa foi imensa e na tentativa de disfarçar minha reação me dirigi à mãe um pouco envergonhado e indaguei sobre o que era aquilo. A mãe que parecia uma pessoa simples e acredito que fragilizada pelo problema me respondeu com muita humildade dizendo o nome daquela terrível doença. Continuei no que havia me proposto a fazer e mesmo sem muita vontade fui ao banheiro. Por alguns momentos quase esqueci que estava ali levado pela possibilidade de que poderia estar acontecendo algo de terrível dentro de minha família. A visão daquela criança tão pequenina e com aquele peso imenso para carregar era algo tão terrível e impressionante que daquele momento em diante tudo que eu queria era poder fazer algo por ela. Mesmo sem muita coragem para encarar aquela situação, ao voltar do banheiro não consegui ir para minha poltrona e sentei-me numa poltrona no outro lado do corredor. Pouco a pouco fui me acostumando com aquela visão tão nova para mim e pude observar melhor aquela criança. Ela tinha a cabeça do tamanho de uma melancia de porte grande, os olhos eram saltados com sessenta por cento do globolo exposto e, o que mais me impressionou foram as tentativas inúteis da criança em se virar na poltrona. Cada vez que ele tentava eu via apenas seu corpinho se virando sem que a cabeça acompanhasse e aquilo me causava uma aflição muito grande. O ônibus começou a andar novamente e meio sem graça comecei a conversar com aquela senhora. Assim fiquei sabendo que ela estava indo para Londrina no estado do Paraná para tentar fazer uma operação cujo objetivo não era reduzir mas, apenas impedir o crescimento da caixa craniana daquela criança. Perguntei a ela sobre seu marido e ela disse que ele havia ficado em sua cidade no estado de Rondônia e que não a acompanhava porque não tinham dinheiro suficiente. Contou-me que para fazer aquela viagem eles haviam contado com a colaboração das pessoas que fizeram uma campanha publica para esse fim. Depois de algum tempo de conversa e já um pouco mais a vontade ela me contou que, segundo o que os médicos haviam dito a ela e ao marido, a doença age da seguinte forma: O liquido que passa pelo celebro para irriga-lo fica armazenado por algum tempo e depois é liberado por uma válvula e absorvido pelo organismo. No caso daquela criança essa dita válvula não funciona e esse líquido acaba por acumular no celebro provocando o crescimento da caixa craniana. Me lembro bem que daquele momento em diante meu coração continuava muito triste e meus pensamentos divididos entre a preocupação com meu pai e com a criança que me provocou aquela visão que, certamente leva a maioria das pessoas a desejarem, assim como eu , jamais te-la tido. Mesmo
com os meus pensamentos vacilantes, me veio a lembrança de como meu pai se lamentava ao contar sobre o desencontro que foi a história de seu alistamento. O ano era mil novecentos e trinta e nove e no ano seguinte ele iria se alistar.


Olá a todos!
Continuo na correria de sempre. Trabalhando feito gente grande. Hoje estou em Goiânia de onde estou postando esta parte do livro. Gostaria de continuar contando com vossa audiência e colaboração para divulgar este trabalho. Um abraço a todos !

Ilto Silva

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